Cronologia da AIDS
Um quarto de século se passou desde a detecção de uma nova doença em 1981, nos Estados Unidos: a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida ou simplesmente aids.
Mas desde os anos 20 e 30 do século passado o mundo se confrontava com os primeiros sinais de um vírus símio que saltava a barreira das espécies, passando a afetar os humanos.
Cronologia de eventos importantes na história da epidemia de aids:
- Décadas de 1920 ou 1930s (especulação): o vírus da imunodeficiência símia (SIV), que destrói as células do sistema imunológico destes animais, salta a barreira das espécies para os humanos, depois que um caçador na África Oeste-central é mordido por um animal infectado ou manuseia carne infectada.
Desde que os primeiros casos de Aids foram diagnosticados, em 1981, a pesquisa médica sobre a doença passou por três fases. A época inicial ficou marcada pelas primeiras e seminais descobertas, como o isolamento do vírus, em 1983, e a invenção do teste anti-HIV, em 1985. Para os pacientes a Aids era ainda uma doença fatal, que matava em média em um ano. Os avanços científicos começaram a render frutos em 1986, com a descoberta do AZT, medicamento que prolongava a sobrevida dos pacientes. Essa foi a segunda fase da moléstia, que durou dez anos. Em 1996, foi descoberto o coquetel de drogas que dificulta a proliferação do HIV no organismo. Os remédios do coquetel vêm recebendo aperfeiçoamentos a cada ano. Com os cuidados necessários, a Aids pode ser cuidada e mantida sob controle como uma doença crônica qualquer, como, por exemplo, o diabetes.
Vírus da Aids se originou por volta de 1930, diz estudo: By LAWRENCE K. ALTMAN Por Lawrence K. Altman
Published: February 02, 2000
Publicado em: 02 de fevereiro de 2000
SAN FRANCISCO, Feb. 1 — Using a new statistical method and one of the world's most powerful computers, scientists at the Los Alamos National Laboratory said today that they had traced the origin of the AIDS epidemic to around 1930, nearly 30 years before the earliest known infection in humans. SAN FRANCISCO, 01 de fevereiro - Usando um método estatístico novo e um dos mais poderosos computadores do mundo, os cientistas do Laboratório Nacional Los Alamos, disse hoje que havia traçado a origem da epidemia da Aids para cerca de 1930, quase 30 anos antes da primeira conhecidos de infecção em seres humanos.
The virus could have originated from 1910 to 1950, but 1930 seems the most probable date based on calculations of the AIDS virus's family tree and the rate at which the virus mutated over time, Dr. Bette Korber, the head of the research team, told the Seventh Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections. O vírus pode ter se originado de 1910-1950, mas 1930 parece ser a data mais provável com base em cálculos da árvore do vírus da Aids e da família a taxa na qual o vírus mutante ao longo do tempo, o Dr. Bette Korber, o chefe da equipa de investigação, disse Sétima Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas.
Scientists generally believe that HIV-1, the AIDS virus, evolved from a virological cousin in chimpanzees that jumped species to humans. Os cientistas acreditam que o HIV-1, o vírus da SIDA, evoluíram a partir de um primo virológica em chimpanzés que saltou espécie aos seres humanos.
Por Deborah Mitchell
SAN FRANCISCO –
O primeiro caso de
infecção pelo HIV-1 ocorreu
provavelmente ao redor de 1930 na África ocidental, de acordo com a Dra.
Bette Korber do Laboratório Nacional Los Alamos no Novo México.Embora os resultados da cientista em sua nova análise filogenética não fujam completamente da teoria recentemente proposta de que a epidemia pelo HIV-1 se ligue a uma campanha de vacinação contra a pólio realizada na África entre 1957 e 1959, ela a torna altamente improvável, comentou a Dra. Korber durante a 7ª Conferência sobre Retroviruses e Infecções a Oportunística.
Usando uma seqüência viral de HIV-1 fossilizada (ZR59) datada de 1959, a mais antiga atualmente disponível, o grupo da Dra. Korber examinou numerosas sequencias de HIV-1 de um período de vinte anos para realizar uma projeção de 60 anos no passado.
Usando um modelo de relógio molecular e " ... levando em conta conta as peculiaridades da seqüência de evolução do HIV-1," a Dra.
Korber estima que a primeira infecção humana com grupo principal do HIV-1 ocorreu na África ocidental "ao redor de 1930 ". O HIV-1 foi introduzido nos EUA provavelmente nos anos 70 , possivelmente por fontes múltiplas, ela acrescentou.
É improvável que as vacinações administradas na África sub-saariana
no fim dos anos 50 sejam ligadas à expansão do HIV-1, concluiu a Dra. Korber . Para que isso tivesse ocorrido, teriam sido necessárias fontes múltiplas do HIV-1 (pelo menos 10), evoluindo simultaneamente.
Ela também mostrou que a introdução inicial de HIV-1 em seres humanos e sua expansão subseqüente precisa ser avaliada como dois eventos diferentes. Como propôs o grupo da Dra. Beatrice Hahn, a expansão do HIV-1 para suas proporções de pandemia atuais foi facilitada provável pelo desenvolvimento da região da África ocidental, onde se acredita que tem emergido, nos anos quarenta.
Ao final da conferência deste ano, a Dra. Hahn e seus colegas na Universidade de Alabama em Birmingham relataram que o reservatório primário para HIV-1 é o Pan troglodita, um chimpanzé que habita na África ocidental.
" Nossas análises acrescentam uma informação relativamente pequena ao quebra-cabeças do HIV, " disse a Dra. Korber ao término de sua apresentação. Porém, julgando pela resposta dos pesquisadores, a nova análise da pesquisadora provê um acréscimo considerável para à compreensão da origem da pandemia do HIV-1.
Em entrevista à Reuters Health, o Dr. Anthony S. Fauci, Diretor do Instituto Nacional de
Alergia e Doenças Infecciosas, disse que a Dra. Korber" ... sintetizou de um modo muito sucinto e completo as reais metodologias usadas atualmente para delinear a epidemiologia molecular do HIV.
Ela usou " ...múltiplas análises de sucessão sofisticadas para formar uma variedade de árvores fenotípicas que se sobrepõem e se interligam, " explicou o Dr. Fauci. O modelo matemático bastante sofisticado de "relógios " moleculares usado também projeta quanto tempo levaria para um
vírus em particular para evoluir, levando-se em conta as freqüências conhecidas de mutação e as relações moleculares existentes.
Baseado nesta análise, é muito provável que o "salto" virótico entre espécies, dos chimpanzés para humanos aconteceu bem antes da
vacina de pólio. " É muito pouco provável (entretanto não impossível), que isto tenha ocorrido na época em que a
vacina contra a pólio foi administrada na África sub-saariana, " ele disse.
O Dr. Fauci acredita que estes achados terminarão com todas as especulações sobre um vínculo entre a pandemia do HIV-1 e as iniciativas de vacinação contra a pólio na África, ...ao menos entre cientistas".
Publicado em Bibliomed Saúde em 09/02/2000
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"A aids não é mortal. Mortal somos todos nós."
Herbert de Souza, o Betinho
12 de dezembro de 1977: Morre, aos 47 anos, a médica e pesquisadora dinamarquesa Margrethe P. Rask. Ela havia estado na África, estudando o Ebola, e começara a apresentar diversos sintomas estranhos para a sua idade. A autópsia revelou que seus pulmões estavam cheios de microorganismos que ocasionaram um tipo de pneumonia.
- 1978: homossexuais dos Estados Unidos e da Suécia começam a apresentar os primeiros sinais de uma doença desconhecida, que mais tarde seria chamada de aids.
1981 – Descreve-se pela primeira vez a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, contudo, sem nomeá-la cientificamente.
- 1981: em 5 de junho, o Centro de Controle de Doenças CDC (Centers for Disease Control) de Atlanta (sul dos Estados Unidos) revela, em seu boletim semanal, o diagnóstico em cinco homossexuais de uma forma rara de pneumonia que normalmente afeta pacientes imunodeprimidos, e que dois deles morreram deste mal.
Em julho, o CDC anuncia a detecção de sarcoma de Kaposi, um câncer raro que normalmente afeta idosos, em 26 homossexuais (dos quais oito morreram) e dez novos casos de pneumonia, o que alerta as autoridades americanas para o aparecimento de uma nova doença. Retrospectivamente, outros casos seriam registrados em 1959 e 1978.
- 1982: (Julho) a nova doença é batizada com o nome de aids, sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
1982 - Pesquisadores do CDC estavam colhendo dados a respeito de nomes de pessoas homossexuais que houvessem mantido relações sexuais entre si, a fim de mapearem aquela doença, até então não compreendida em relação à sua forma de transmissão. Grande parte das pessoas entrevistadas relata haver conhecido um mesmo homem, um comissário de bordo de origem franco-canadense, Gaetan Dugas. Mais tarde este homem passou a ser conhecido como o paciente zero, a partir de quem a doença teria cruzado o oceano atlântico. No Brasil, os primeiros sete casos confirmados ocorreram em São Paulo, todos pacientes de prática homo/bissexual, tendo sido o Hospital Emílio Ribas a atende-los. Os pesquisadores ainda não haviam chegado a um consenso sobre o nome para esta doença, que era tratada pela imprensa como ‘Peste Gay’ ou GRID - Gay-Related Immune Deficiency. Ainda neste ano, casos de AIDS foram relatados em 14 países ao redor do mundo.(Dezembro) Um bebê de 20 meses morre de uma infecção relacionada com a aids depois de uma transfusão de sangue, dando o primeiro indício de que a doença poderia ser transmitida por outras vias, além das relações homossexuais.
Quando o americano Robert Gallo isolou o vírus da Aids, em 1983, a doença era chamada de "peste gay" e matava nove em cada dez pacientes, na imensa maioria homossexuais e usuários de drogas injetáveis. A façanha do americano, repetida quase ao mesmo tempo pelo francês Luc Montagnier, abriu caminho para a sintetização das drogas antivirais que transformaram a Aids em uma doença crônica, tratável e de baixa letalidade. Gallo está com 66 anos e trabalha atualmente na pesquisa de uma vacina contra a Aids. Prevê que esse medicamento pode estar disponível em no máximo seis anos. O cientista americano deu esta entrevista a VEJA em 1996, ano que foi um marco no tratamento da doença. O coquetel de drogas que interrompe quase completamente a proliferação do vírus começava a dar resultados positivos. Gallo falou a VEJA dessa revolução no momento exato do disparo do primeiro tiro.
O comissário de bordo canadense Gaetan Dugas é considerado o "paciente zero" da Aids. Estima-se que ele tenha contaminado aproximadamente 250 pessoas por ano em diversos países no início da década de 80. Sua história foi contada no livro E a Vida Continua, publicado nos Estados Unidos em 1987 e considerado uma das melhores crônicas sobre a doença. A obra sugere que a Aids seria uma "epidemia da globalização", própria de uma era em que existe facilidade de locomoção. A Sars seria outra dessas epidemias.
Entrevista: ROBERT GALLO
Venceremos a Aids
O cientista americano vê com cautela as
novas terapias e apresenta sua estratégia
para a busca da cura da doença
Ana Imanishi-Rogge
As notícias sobre uma nova terapia de combate à Aids provocaram uma onda de euforia entre os pacientes, seus familiares e médicos. Mas o cientista americano Robert Gallo, o primeiro a vincular a doença ao vírus HIV, recomenda cautela. Ele está preocupado com os efeitos colaterais do coquetel de drogas e acha que ainda é cedo para conclusões definitivas. Gallo, 59 anos, sabe do que está falando. Pesquisador há trinta anos, descobriu dois vírus relacionados à leucemia humana e ajudou a desenvolver um teste para detectar o HIV no sangue. Em 1984, foi acusado de ter roubado o vírus da Aids do laboratório de Luc Montagnier, na França. Foi absolvido, mas a pendenga tornou-se tema de um filme de Hollywood - E a Vida Continua, no qual ele é retratado como um cientista desonesto e vaidoso. É outra, no entanto, a impressão que se tem do homem que recebeu VEJA no Centro Médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos: ele é objetivo, simpático e bem-humorado. Gallo falou sobre os remédios contra a Aids e sobre suas pesquisas em busca de uma vacina. Prudência à parte, ele mantém a esperança de que a ciência acabará por descobrir a cura da Aids: “O vírus ainda será derrotado”.
Veja - Existe fundamento para o entusiasmo despertado pelas novas drogas contra a Aids?
Gallo - Lamento dizer: sim e não. São bastante raros os casos de drogas capazes de combater com eficácia algum tipo de vírus. É muito mais difícil combater um vírus do que parasitas e bactérias, que vivem fora da célula. Os parasitas e as bactérias têm seu próprio metabolismo, são mais fáceis de atingir e, portanto, mais fáceis de destruir. Mas é evidente que estamos no limiar de uma nova era nas investigações. Sabemos muito mais sobre vírus em geral e, especialmente, sobre o HIV. Era apenas uma questão de tempo até que drogas relativamente potentes e específicas fossem encontradas. O que tem causado entusiasmo na comunidade científica é o uso das novas drogas, baseadas na inibição de uma das enzimas necessárias para a reprodução do vírus HIV, a protease. Esses novos medicamentos agem em conjunto com as drogas antigas, como o AZT, que atua sobre a transcriptase reversa, outra enzima do ciclo do HIV. Esse coquetel de remédios não deixa muita margem para que o HIV escape da célula infectada para atacar as células vizinhas, mas é preciso destacar também os aspectos negativos da medicação, os problemas que persistem.
Veja - Quais são os defeitos das novas drogas contra a Aids?Gallo - Há grande risco de que o tratamento possa ser tóxico e a longo prazo provoque doenças secundárias. Até agora, as drogas têm funcionado muito melhor do que o esperado. Mas eu ainda me preocupo com a mutação do vírus, com a possibilidade de que ele se torne resistente às novas drogas. Afinal, essas drogas são potencialmente nocivas ao organismo. No caso de metade delas, os efeitos a longo prazo são desconhecidos.
Veja - É verdade que o coquetel de drogas causa efeitos colaterais tão devastadores quanto os tratamentos de câncer por quimioterapia?
Gallo - Os princípios em que se baseiam essas terapias são parecidos, e seus efeitos também. No caso do tratamento de câncer, logo se percebeu que certos tipos da doença resistiam à quimioterapia. São freqüentes, também, os casos de doentes que não resistem aos efeitos colaterais das drogas usadas na quimioterapia, extremamente tóxicas. Além disso, certas combinações desses medicamentos provocam o surgimento de outras doenças, até mesmo de outros tipos de câncer.
Veja - Mas é possível exterminar o HIV com o novo coquetel de drogas?
Gallo - Deu-se muito destaque à idéia de que o coquetel de drogas à base dos inibidores de protease poderia erradicar a Aids (veja quadro). Alguns pesquisadores chegaram a insinuar que, graças aos novos medicamentos, seus pacientes teriam obtido a cura. De fato, existem casos de pacientes em que não se consegue mais detectar a presença do vírus. Isso é um progresso e deve ser reconhecido. Mas é importante notar que, antes, alguns médicos já haviam observado o desaparecimento do vírus em seus pacientes, mas logo perceberam que, quando se parava de tomar o medicamento, o HIV retornava. Pode até ser possível eliminar o vírus imediatamente após a infecção, quando a quantidade de HIV no organismo é pequena e ainda não ocorreram muitas mutações. Mas isso será sempre exceção e terá pouco efeito prático no combate à epidemia.
Veja - Quais serão os próximos passos contra a Aids?
Gallo - É necessário aprofundar nossos conhecimentos sobre o HIV e desenvolver uma maneira mais natural e biológica para controlar a reprodução do vírus no organismo. A indústria farmacêutica deverá continuar o que está fazendo, ou seja, desenvolver novas substâncias químicas contra as enzimas do vírus - a protease, a transcriptase reversa, a integrase. A indústria está atualmente numa posição muito favorável. Essas enzimas são fáceis de estudar e, quando se descobre sua estrutura molecular, torna-se fácil encontrar as drogas mais eficazes para anular a sua atuação.
Veja - E o problema do preço, já que o coquetel anti-Aids custa cerca de 10 000 dólares anuais?
Gallo - O grande problema com essas drogas é, de fato, o custo. Quem pode comprá-las? Noventa por cento dos doentes não podem. Qualquer solução para o tratamento da Aids terá, obrigatoriamente, de incluir o lado econômico. O custo elevado torna essas drogas inacessíveis aos pacientes dos países em desenvolvimento e, até mesmo, a muitos pacientes das nações industrializadas.
Veja - Qual foi a importância da conferência sobre a Aids em Vancouver, no Canadá, em julho?
Gallo - Encontros desse tipo são bons para orientar os ativistas, os sociólogos, os vendedores de remédios, os estudantes. Os cientistas foram a Vancouver para dar informação, não para receber. Não falo isso de maneira arrogante. Essas conferências têm um valor muito limitado do ponto de vista da ciência. Aqui em Maryland fazemos uma vez por ano um encontro científico, que dura uma semana. O doutor Dráuzio Varella, de São Paulo, por exemplo, comparece sempre. Aqui se discute ciência, para valer. Já as conferências costumam ser grandes demais: 10 000 pessoas, centenas de salas, a imprensa por toda parte. É mais fácil encontrar jornalistas do que cientistas.
Veja - O senhor publicou um artigo científico no ano passado sobre o ciclo do HIV que teve enorme repercussão entre os especialistas. Qual é a idéia básica do artigo?
Gallo - Já se sabia que, em certas condições, células do sistema imunológico que entram em combate com o HIV liberam substâncias que bloqueiam o vírus. Até recentemente, essas substâncias não haviam sido identificadas. Nós descobrimos, examinando o sangue de pessoas que foram expostas ao vírus sem ser infectadas, que ocorria uma superprodução de quemoquinas. As quemoquinas são um tipo pouco conhecido de proteínas envolvidas no processo inflamatório. Para se incorporar à célula CD4, um dos tipos de célula do sistema imunológico atacados pelo HIV, o vírus tem de se ligar a estruturas da superfície da célula, os receptores, enquanto sua membrana se funde com a membrana da célula. Para isso, o vírus tem de interagir com o receptor da quemoquina. Acreditamos que, se esse receptor puder ser alterado, o HIV não conseguirá penetrar na célula. Nesse caso, não haverá infecção. Ou, ao menos, a proteção será maior.
Veja - Há alguma confirmação prática dessa teoria?
Gallo - Apenas um semestre depois de publicado, meu artigo teve várias confirmações. Recentemente, outro laboratório confirmou que o vírus se liga a um receptor da família das quemoquinas. Um grupo de pesquisadores de Milão verificou que hemofílicos não infectados produzem quemoquina em grande quantidade. Descobriu-se também que, se a doença progride muito lentamente, a produção de quemoquina é maior.
Veja - Quais são as aplicações práticas da quemoquina?
Gallo - Se nossa teoria estiver correta e a quemoquina for uma substância que induz à proteção do organismo contra o HIV, essa descoberta poderá servir como referencial para a pesquisa da vacina anti-Aids. Digamos que eu tenha uma vacina e a esteja testando em macacos. Se os animais produzirem muita quemoquina, isso pode significar que eles estão protegidos contra o vírus. A vacina poderia, então, passar à fase dos testes em seres humanos.
Veja - Por que é tão difícil produzir uma vacina contra a Aids?
Gallo - Um dos problemas é a enorme capacidade do HIV de executar mutações. Uma vacina usando o vírus vivo mas atenuado, a exemplo das vacinas já existentes para muitas outras doenças, seria altamente arriscada. O HIV pode mudar de configuração e provocar a doença mesmo em pessoas vacinadas. Isso já foi comprovado. Outro problema é que o vírus integra seus genes às células de defesa do organismo. O próprio sistema imunológico, assim, estimula a reprodução do inimigo que é encarregado de combater. Uma vacina contra o HIV terá de bloquear a entrada do vírus na célula, para impedir que a infecção ocorra, e colaborar na ação do sistema imunológico. Além dos problemas científicos, há limitações financeiras. As empresas farmacêuticas não estão querendo dar o dinheiro necessário às pesquisas. Querem lucros imediatos. Elas têm acionistas, aos quais devem satisfações. Os investidores querem ver o retorno do capital aplicado. A vacina anti-Aids é um desafio que exige um investimento global, envolvendo o conjunto dos países industrializados.
Veja - Alguns especialistas argumentam que as epidemias causadas por vírus, como a Aids, nunca foram resolvidas com medicamentos. A vacina é o único meio de deter a epidemia?
Gallo - A vacina, quando for encontrada, será o meio mais eficaz de prevenir a doença, nada mais. No caso das pessoas já infectadas, os medicamentos são indispensáveis. Em muitos casos, já se conseguem bons resultados com remédios. É necessário tomar certo cuidado com esse tipo de argumento. Até o final dos anos 20, por exemplo, as doenças provocadas por bactérias eram tidas como incuráveis. Foi quando apareceu Alexander Fleming, com a penicilina. Vivemos atualmente uma nova era da infecção viral, uma era em que a vanguarda da pesquisa está situada no combate à Aids. Os vírus ainda serão derrotados pela terapia.
Veja - Por que, depois de trinta anos, o senhor deixou de trabalhar para o governo dos Estados Unidos?
Gallo - O dinheiro foi um dos motivos, mas não o principal. No serviço público eu não podia atuar em medicina clínica, como estou fazendo agora na universidade. Antes, eu tinha de limitar-me às pesquisas de laboratório. Saí porque queria ter liberdade para levar os resultados do laboratório o mais rápido possível para a clínica. Para isso é preciso se livrar da burocracia governamental.
Veja - O senhor assistiu ao filme E a Vida Continua, que retrata sua briga com os pesquisadores franceses liderados por Luc Montagnier?
Gallo - Cheguei a entrar numa sala de cinema, por insistência de um advogado que achava que eu deveria processar os autores do filme e ganhar 30 milhões de dólares de indenização. Não deu certo. Não consegui assistir ao filme inteiro. Ele é deprimente.
Veja - No filme, o senhor é retratado como um cientista desonesto que roubou o vírus dos franceses. Existem ainda problemas legais em torno da patente do vírus?
Gallo - Isso terminou há muito tempo. É possível que a publicidade negativa contra mim tenha ocorrido porque, na época, na França, eles tiveram problemas para testar o HIV no sangue. Muitas pessoas morreram e houve um escândalo. Eu soube há pouco que um dos dirigentes do Instituto Pasteur envolvidos no caso foi indiciado na Justiça.
Veja - O senhor ainda mantém relações com o Instituto Pasteur?
Gallo - Claro. Montagnier sempre participa do nosso encontro científico anual em Maryland, e eu vou à França todos os anos. Mesmo nas épocas mais difíceis, sempre fui um dos principais oradores nos encontros do Instituto Pasteur. Além disso, que importância tem saber se Montagnier e eu somos amigos ou não? Nós não somos astros de cinema, nenhum de nós dois é Madonna. Nosso único interesse comum é a ciência, e isso é o que importa.
- 1983: (Maio) Cientistas do Instituto Pasteur, na França, chefiados por Luc Montagnier, isolam o vírus que invade os leucócitos, provocando a aids. Eles denominam o agente causador da doença como LAV (siga em inglês para Lympadenopathy-associated virus). Os primeiros sinais, encontrados em homens africanos na Europa, mostram que heterossexuais também podem ser infectados, gerando uma ansiedade generalizada.
(Novembro) A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece uma vigilância global. O número conhecido de casos de aids (só nos Estados Unidos) é de 3.064 até o fim do ano. São registrados os primeiros casos de aids no Brasil. Em São Paulo é implantado o primeiro programa oficial de controle da doença, ao qual se segue o programa no estado do Rio de Janeiro e o Programa de aids na Divisão de Dermatologia Sanitária.
1983 – Instalou-se grande pânico ao redor do mundo quando se cogitou que a doença poderia ser transmitida pelo ar e utensílios domésticos, após ter sido relatado casos de infecção em crianças nos Estados Unidos. Ocorre a primeira Conferência sobre AIDS, em Denver, EUA. A doença é relatada em 33 países. Estavam confirmados 3.000 casos da doença nos EUA, com um total de 1.283 óbitos.- 1984: o cientista americano Robert Gallo anuncia ter isolado o vírus, o qual batizou de HTLV-III, mas fica claro que o agente é o mesmo do LAV, identificado um ano antes, na França.
1984 – Descobre-se o retrovírus considerado agente etiológico da AIDS. Dois grupos de cientistas reclamaram ter sido o primeiro a descobri-lo: um do Instituto Pasteur de Paris, chefiado pelo Dr. Luc Montangnier e o outro dos Estados Unidos, chefiado pelo Dr. Robert Gallo. Ocorre a morte de Gaetan Dugas, considerado o "paciente zero", a pessoa que trouxe o vírus para a América. Fecham-se as saunas gays na cidade de São Francisco, EUA. A secretária de saúde e serviços humanos dos Estados Unidos declara que em muito pouco tempo, antes do ano de 1990, haveria uma vacina e a cura contra a AIDS. No final deste ano, 7.000 americanos tinham a doença.- 1985: os primeiros testes comerciais com o vírus da aids ajudam a livrar os bancos de sangue contaminado. Celebra-se a primeira Conferência Internacional sobre aids, em Atlanta. O ator de Hollywood Rock Hudson é a primeira personalidade a morrer de aids. Os casos da doença agora aparecem em todas as regiões do mundo. É identificado o primeiro caso na China.
1985 – Chega ao mercado um teste sorológico de metodologia imunoenzimática, para diagnóstico da infecção pelo HIV que podia ser utilizado para triagem em bancos de sangue. Após um período de conflitos de interesses político-econômicos, esse teste passou a ser usado mundo afora e diminuiu consideravelmente o risco de transmissão transfusional do HIV. O ator Rock Hudson morre, sendo a primeira figura pública conhecida a ter falecido em função de AIDS. Ryan White, um menino de 13 anos e hemofílico, é expulso da escola. Ocorre a primeira Conferência Internacional de AIDS em Atlanta. Ao final do ano, a AIDS havia sido relatada em 51 países. É relatada no Brasil a primeira ocorrência de transmissão perinatal, em São Paulo. - 1986: o agente causador da aids passa a ser oficialmente denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV). No Brasil é criado o Programa Nacional de DST (doenças sexualmente transmissíveis) e aids. - 1987: a primeira droga anti-HIV, a zidovudina (AZT), é aprovada depois que testes demonstraram sua eficácia na redução, mas não na cura, da progressão do vírus. O AZT pertence a uma classe de medicamentos denominada inibidor da transcriptase reversa, que impede a replicação do vírus. O presidente da Zâmbia, Kenneth Kaunda, anuncia que seu filho morreu de aids, um marco na campanha contra o estigma que ronda a doença na África. O presidente americano, Ronald Reagan, que foi acusado de ter negligenciado a aids, faz um discurso no qual descreve a doença como "inimigo público nº1".
1986 - Na segunda Conferência Internacional de AIDS, ocorrida em Paris, foi reportada experiências iniciais do uso do AZT. No mesmo ano, o órgão norte-americano de controle sobre produtos farmacêuticos FDA (Food and Drug Administration) aprovou o seu uso. Este revelou um impacto discreto sobre a mortalidade geral de pacientes infectados pelo HIV. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma estratégia global de combate à AIDS. Em relação aos usuários de droga injetável, a estratégia recomendava aos usuários que esterilizassem seringas e agulhas. No Brasil, Herbert de Souza, o Betinho, conhecido sociólogo e ativista político brasileiro, hemofílico, confirma sua condição de portador do vírus HIV. No mesmo ano ele funda a ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, entidade que vira referência na luta por maior controle dos bancos de sangue e contra a discriminação.
1987 – O governo britânico lançou uma campanha publicitária com a frase "Não morra de Ignorância" e entregou em cada residência um folheto sobre a AIDS. A princesa Diana abriu o primeiro Hospital especializado em tratamento da AIDS na Inglaterra. O fato dela não ter usado luvas quando apertou as mãos de pessoas com AIDS foi amplamente divulgado pela imprensa e ajudou a mudar atitudes preconceituosas. O presidente Kaunda, da Zâmbia, anunciou que seu filho morrera de AIDS. O presidente americano Ronald Reagan fez seu primeiro discurso sobre AIDS quando 36 mil americanos já possuíam diagnóstico e 20.000 já haviam morrido. Ao redor do mundo, no mês de novembro, 62.811 casos já tinham sido oficialmente reportados pela OMS, de 127 países. Desde este ano, o Governo Americano repassa recursos para o desenvolvimento de programas globais de prevenção ao HIV/AIDS.- 1988: a Organização Mundial da Saúde institui o 1º de dezembro como o Dia Internacional de Combate à aids. A data torna-se um marco para a mobilização, a conscientização e a prevenção da doença no mundo.
1988 – A Inglaterra, em função do alto índice de contaminação de usuários de drogas, começou a discutir estratégias específicas focadas em programas de prevenção que foram mandados para 148 países. O programa enfatizava a educação, a troca de informações e experiências e a necessidade de proteção dos direitos e da dignidade humana. Morrem os dois irmãos de Betinho, também hemofílicos, de AIDS: Henfil, proeminente escritor, aos 43 anos e Chico Mário. Betinho afasta-se da ABIA, desesperançado. No mesmo ano, a OMS instituiu o Dia Mundial da AIDS, primeiro de dezembro, sendo esta primeira edição com o tema: "Junte-se ao esforço mundial".
1989 – Um grande número de novas drogas tornou-se disponível no mercado para tratamento das infecções oportunistas. O preço do AZT caiu 20%. Um novo antiretroviral, DDI, foi autorizado pelo FDA para pacientes com intolerância ao AZT. O tema do Dia Mundial da AIDS, 1º de Dezembro, é "Cuidemos uns dos outros".
1990 – Morre Ryan White, aos 19 anos. O programa de troca de agulhas e seringas da cidade de Nova York é fechado por questões políticas. Em dezembro, mais de 307 mil casos de AIDS haviam sido oficialmente reportados pela OMS, porém havia estimativas de números próximos a 1 milhão. No Brasil, morre o cantor de rock Cazuza. No mesmo ano, seus pais fundam a Sociedade Viva Cazuza. O tema do Dia Mundial da AIDS é "Aids e mulheres".
- 1990: morre Ryan White, um jovem americano hemofílico infectado com HIV, cuja proibição de freqüentar a escola por ser soropositivo deu início a uma campanha de combate ao preconceito contra a aids.
• Cazuza – O cantor viveu sua agonia em público, falando corajosamente sobre a doença. Morreu em 1990.
Magic Johnson – O craque do basquete americano descobriu ser soropositivo em 1991. Tornou-se usuário do coquetel de drogas em 1996 e hoje leva uma vida normal, administrando vários negócios e produzindo um programa na MTV.
- 1991: morre Freddy Mercury, vocalista do grupo de rock Queen. O astro do basquete americano Earvin "Magic" Johnson anuncia que tem HIV. Dez milhões de pessoas no mundo são soropositivas ou estão doentes de aids, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São indiciados na França os médicos Michel Garretta e Jean Pierre Allain, responsáveis por transfusões sangüíneas em um caso relativo a sangue contaminado.
1991 – O jogado de basquete americano, "Magic" Johnson anunciou que era portador do HIV. Morre Freddie Mercury, cantor do grupo de rock Queen. O terceiro antiretroviral DDC foi autorizado pelo FDA para pacientes intolerantes ao AZT. Contudo, nesta época, ficou claro que o AZT e as outras drogas estavam limitadas ao tratamento da AIDS, pois o HIV desenvolvia resistência aos medicamentos que diminuíam sua eficácia. Ao final de 1991, chega a 200 mil o número de casos nos EUA com 133 mil mortes. O tema do Dia Mundial da AIDS é "Compartilhando um desafio".
1992 – A estrela do tênis Arthur Ashe anunciou que estava infectado pelo HIV em função de uma transfusão de sangue em 1983. O FDA aprova o uso do DDC em combinação com o AZT para pacientes adultos com infecção avançada. Esta foi a primeira combinação terapêutica de drogas para o tratamento da AIDS a apresentar
sucesso. O tema do Dia Mundial da AIDS é "Vamos juntos contra a AIDS de mãos dadas com a vida".
- 1992: o astro do tênis Arthur Ashe anuncia ter sido infectado numa transfusão de sangue nove anos antes.
1993 – mais de 3,7 milhões de novas infecções ocorreram mundialmente. Mais de 10 mil por dia. Durante este ano, mais de 350 mil crianças nasceram infectadas. O bailarino russo Rudolf Nureyev morre de AIDS em janeiro. Em fevereiro, menos de um ano após ter anunciado a sua infecção, morre Arthur Ashe. "Previna-se da vida, não das pessoas" é o tema do Dia Mundial da AIDS.- 1993: sinais de preocupação surgem diante da resistência ao AZT apresentada entre usuários de longo prazo da droga. Morre de aids o bailarino russo Rudolf Nureyev. Casos da doença começam a surgir na África do Sul.
- 1994: estudos demonstram que o AZT é capaz de impedir a transmissão do HIV de mãe para filho.
1994 – passou a ser estudado um novo grupo de drogas para o tratamento da infecção, os inibidores da protease. Estas drogas demonstraram potente efeito antiviral isoladamente ou em associação com drogas do grupo do AZT (daí a denominação "coquetel"). Houve diminuição da mortalidade imediata, melhora dos indicadores da imunidade e recuperação de infecções oportunistas. Ocorreu um estado de euforia, chegando-se a falar na cura da AIDS. Entretanto, logo se percebeu que o tratamento combinado (coquetel) não eliminava o vírus do organismo dos pacientes. Some-se a isso também aos custos elevados do tratamento, o grande número de comprimidos tomados por dia e os efeitos colaterais dessas drogas. Por outro lado, um estudo comprovou que o uso do AZT reduzia em 2/3 o risco de transmissão de HIV de mães infectadas para os seus bebês. A despeito desses inconvenientes, o coquetel reduziu de forma significativa a mortalidade de pacientes com AIDS. O ator Tom Hanks ganha um Oscar por sua atuação no filme Philadelphia, onde interpreta um gay com AIDS. A AIDS se torna a principal causa de morte entre americanos com idade entre 25 e 44 anos. Desde o início da infecção, 400 mil pessoas nos Estados Unidos haviam desenvolvido a AIDS com 250 mil mortes. É criado o UNAIDS, integrado por cinco agências de cooperação de membros da ONU com o objetivo de defender e garantir uma ação global para a prevenção do HIV/aids. (Unicef; Unesco; UNFPA; OMS; e UNDP), além do Banco Mundial. Betinho é indicado pelo presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, para o Prêmio Nobel da Paz, por sua atividade no combate à fome. Estava pesando 45 kg. O tema do Dia Mundial da AIDS é "AIDS e família".
- 1995: duas novas classes de medicamentos anti-HIV, que também combatem a replicação, são aprovadas: os inibidores de protease e os inibidores não-nucleosídeos de transcriptase reversa. Usados em combinação, eles podem reduzir a carga viral abaixo de níveis detectáveis, um feito que desperta o otimismo de que uma possível cura tenha sido encontrada. Introdução de testes que medem a carga viral no sangue.
1995 – O FDA aprovou o uso do Saquinavir, a primeira droga de um novo grupo, antiretroviral, de inibidores de Protease. "Compartilhemos direitos e responsabilidades", é o tema do Dia Mundial da AIDS. Mais de 80 mil casos de aids já tinham sido registrados no Brasil pela Coordenação Nacional de DST e Aids da Secretaria de Projetos Especiais de Saúde do Ministério da Saúde. Nasce o Plano de Cooperação Técnica Horizontal entre países da América Latina e Caribe.
1996 – Magic Johnson retorna ao basquete profissional. Durante este ano, um crescente número de drogas foi aprovado pelo FDA nos EUA, para administração em combinação com outras drogas. Acontece a Conferência Internacional em Vancouver, onde se anunciou a combinação de três drogas com efeitos mais efetivos que a terapia dual. Surgiu a dúvida a respeito de quanto tempo estes efeitos poderiam ser mantidos, considerando-se as dificuldades e peculiaridades do tratamento. No final deste ano, a UNAIDS reportou que o número de novos infectados havia declinado em vários países em que práticas de sexo seguro haviam sido disseminadas (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, e países do norte da Europa). O tema do Dia Mundial da AIDS neste ano é "Unidos na esperança". Acontece em dezembro, no Brasil, o Iº Congresso Brasileiro de Prevenção das DST e AIDS, em Salvador, BA. - 1996: as Nações Unidas criam o Programa Conjunto da ONU sobre HIV/aids (UNaids). Introdução do teste de carga viral, um padrão de medida da progressão da doença. A epidemia começa a piorar no Leste europeu, na antiga União Soviética, na Índia e na China.
- 1997: o número de mortes causadas por aids cai nos Estados Unidos pela primeira vez desde 1981. Surgem evidências de efeitos colaterais tóxicos e de resistência aos novos medicamentos anti-retrovirais.
1997 – A UNAIDS reportou que os números mundiais de AIDS estavam piores do que o esperado: sugerindo que havia 30 milhões de pessoas vivendo com HIV/AIDS e 16 mil novas infecções por dia. Em 09 de agosto, morre o Betinho, 11 anos depois de confirmar sua condição de portador, com 61 anos, vítima de Hepatite C, em casa, ao lado da mulher e dos filhos. O Brasil comove-se. A USAID/Brasil propõe estratégia de cinco anos para a prevenção do HIV/AIDS.
1998 - No dia Mundial da AIDS, a temática é a mesma do ano anterior: "Num mundo com AIDS, as crianças e os jovens são responsabilidades de todos nós". Na América Latina e Caribe, estima-se que aproximadamente 65.000 indivíduos entre 15 e 24 anos de idade adquiriram o HIV (UNAIDS, 1999).
- 1998: naufragam as esperanças de que o coquetel de anti-retrovirais fosse uma cura. Surgem evidências de "reservatórios" de HIV onde o vírus hiberna e retorna quando a terapia é interrompida.
- 1999: A nevirapina se torna a droga preferencial para prevenir a transmissão de mãe para filho.
1999 – O Dia Mundial da AIDS, celebrado em primeiro de dezembro, leva por tema "Você pode fazer um mundo melhor. Escute, aprenda e viva com a realidade da AIDS. Até este ano, 155.590 casos de AIDS foram registrados no Brasil, dos quais 43,23% na faixa etária entre 25 e 34 anos".
2000 – Acontece, de 06 a 11 de novembro, no Rio de Janeiro o Fórum 2000 – Iº Fórum e IIª Conferência de Cooperação Técnica Horizontal da América Latina e do Caribe em HIV/AIDS e DST.
Referências Bibliográficas
- Secretaria Municipal de Saúde e Higiene de São José do Rio Preto, SP
- Ministério da Saúde – Coordenação de DST/AIDS
- SHILTS, Randy. O prazer com risco de vida. Record. Rio de Janeiro, 1987.
- SODELLI, Marcelo. Escola e AIDS: Um olhar para o sentido do trabalho do professor na prevenção à AIDS. Tese de Mestrado PUC/SP, 1999.
- Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Copyright © 2000 eHealth Latin America 26 de Setembro de 2000
- 2000: o sul da África se torna o epicentro do que hoje é uma pandemia global. Em Botsuana, quase um em quatro adultos e 40% das mulheres grávidas têm HIV. O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, é atacado em todo o mundo por questionar que a aids seja causada pelo HIV. Companhias farmacêuticas começam a baratear os preços dos medicamentos anti-retrovirais para países pobres.
- 2001: a companhia farmacêutica indiana Cipla promete fabricar genéricos mais baratos de drogas anti-aids, pressionando as multinacionais a cortar os preços mais adiante. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, pede a criação de um "fundo de guerra" para a aids de US$ 7 bilhões a US$ 10 bilhões por ano, comparados com o um bilhão de dólares que eram gastos. A doença se torna a causa principal de morte na África subsaariana.
Durante a rodada de negociações de Doha, no Catar, o Brasil defende a proposta vitoriosa de priorizar as necessidades da população aos direitos de patentes, dando apoio político e legal ao país em suas negociações, levando a significativas reduções de preço sem que a quebra de patentes tenha sido efetivada até o momento.
- 2002: o Fundo Global de Combate à aids, Tuberculose e Malária começa a fazer suas primeiras destinações de recursos. Começa a ser comercializado o Fuzeon, o primeiro de uma nova classe de medicamentos anti-HIV denominados inibidores de fusão, que visam evitar que o vírus se acople às células imunológicas, ao invés de se replicar dentro delas após invadi-las, demonstra eficácia entre pessoas com resistência aos tratamentos existentes.
- 2003: o presidente americano, George Bush, anuncia planos para destinar gastar 15 bilhões de dólares em cinco anos no combate à aidsaids na África e no Caribe. Fracassa o primeiro teste com uma vacina contra o HIV. O novo diretor-geral da OMS, Lee Jong-Wook, coloca a aids como sua prioridade máxima e pede que três milhões de pobres tenham acesso aos medicamentos anti-retrovirais até o fim de 2005. O primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, se torna o primeiro chefe de Estado do país a apertar a mão publicamente de um paciente com aids. Cai o preço dos medicamentos anti-retrovirais, com a ajuda de um acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC) para permitir aos países pobres e vulneráveis importarem medicamentos genéricos.
- 2004: a África do Sul finalmente começa a distribuir anti-retrovirais gratuitos nos hospitais. A cúpula do G8 convoca uma iniciativa denominada Global HIV Vaccine Enterprise, que implementará a coordenação e o intercâmbio de informações entre os pesquisadores de vacinas do mundo.
- 2005: grande aumento do acesso a anti-retrovirais nos países pobres, embora o plano da OMS "Three by Five" (três milhões de pessoas até 2005) só tenha permitido tratar 1,3 milhão de pessoas infectadas. Voltam as preocupações com recursos para a aids, depois que os doadores dão prioridades às catástrofes naturais, como a tsunami que atingiu o oceano Índico no fim de 2004. Em seu estudo anual, a UNaids e a OMS afirmam que a aids matou 3,1 milhões de pessoas em 2005 e que cinco milhões de pessoas foram infectadas pelo vírus HIV no ano. O total de pessoas vivendo com HIV/aids atinge o recorde de 40,3 milhões.
- 2006: (Fevereiro) a China emite as primeiras diretrizes para lidar com a epidemia de aids, incluindo a exigência dos governos locais de oferecer medicamentos e exames gratuitos.
(Junho) Membros da ONU estabelecem como meta o acesso universal aos cuidados com HIV/aids até 2010. Em 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à aids, haverá no mundo entre 34,1 e 47,1 milhões de pessoas vivendo com HIV ou aids e o número de mortes causadas pela doença será de mais de 25 milhões de pessoas.